terça-feira, 12 de março de 2019

A Carreta e o Esquife da ISAM…


Muitos de vós ainda se lembrarão da carreta funerária pertencente à Irmandade de Santo António do Monte (ISAM) e que durante largos anos serviu a população do lugar do Monte.

Muito antes da construção do Cemitério Municipal do Monte, bem como da existência das agências funerárias e dos carros funerários, o transporte dos defuntos do Monte até ao cemitério no centro da freguesia da Candelária era efetuado a ombros, em padiola ou nos chamados carros de bois ou de vaca.

No entanto para dar mais dignidade aos cortejos fúnebres e tornar menos custoso e oneroso aos sócios da ISAM, bem como à restante população do Monte esta recém-criada Irmandade mandou construir uma carreta e um esquife, para o servir no cortejo funerário dos cerca de três quilómetros que separam o lugar do Monte ao cemitério da Candelária.

Muitos se lembrarão ainda que no regresso ao Monte e a troco de umas moedas a criançada trazia a carreta de volta em brincadeiras e corridas, por vezes em velocidade excessiva e que pontualmente resultava em alguns prejuízos para a carreta, bem como algumas esfoladelas e raspões nos joelhos e braços dos menos incautos.

De notar também que, sempre que era eleita uma nova mesa administrativa da ISAM, eram também nomeados dois tumbeiros para o Monte de Baixo e dois para o Monte de Cima, tumbeiros estes que ficavam encarregues dos serviços fúnebres dos irmãos da Irmandade.

Do esquife funerário se calhar já ninguém se lembra. O esquife não é mais que uma caixa de madeira a imitar um caixão e que teve a particularidade de ser usado pelos familiares dos defuntos mais pobres, pois devido aos seus escassos recursos financeiros não tinham dinheiro para comprar umas toscas tábuas para confecionar os caixões.

No esquife seguiam assim os defuntos embrulhados numa mortalha, e na mortalha desciam à sua ultima morada terrena. O esquife retornava ao Monte onde aguardava por outros defuntos menos afortunados e endinheirados.

A ISAM foi instituída a 3 de agosto de 1902 e no ano de 1905 pensaram já em construir uma carreta. Nas contas da Irmandade verifica-se a 27 de Junho 1905 uma despesa no valor de 0,305 reis paga à firma Campos & Andrade, “para a compra de umas ferragens para uma carreta”.

Na acta da sessão da mesa administrativa da ISAM, datada de 12 de Maio de 1907, lê-se o seguinte:
“…o donativo especial de diversos entregue pelo mezario Francisco Garcia da Rosa, na importância de 72$530 reis para a construção de uma carreta e esquife para o serviço de enterramentos dos Irmãos de esta Irmandade e tambem dos moradores do logar do Monte…”

Esta acta foi assinada pelos mesários: presidente, Manoel Rodrigues da Fonte, Manoel Rodrigues Dias, Francisco Garcia da Rosa, José Francisco da Costa, Thomé Gonçalves de Mattos Junior, Thomaz Joaquim Laranjo e Manoel Garcia da Rosa.

A 28 de Fevereiro de 1908, surge a despesa de 67,940 reis efectuada na “construção de uma carreta e esquife para o serviço funerário da Irmandade e moradores do lugar do Monte.”
A 30 de Setembro de 1908, a despesa de 6,000 reis aplicada no “custo de um jogo de rodas compradas a Sr. José Cypriano da Silva Nobriga para a carreta funerária.”

Esta carreta e esquife eram guardados nas traseiras da igreja no lado Sul, em espaço construído para tal fim, conforme o descrito na acta da ISAM de 25 de Dezembro de 1920:

 Sessão de 25 de Dezembro, de 1920
Aos vinte e cinco dias de Dezembro, de mil novecentos e vinte, pelas trez horas da tarde, se reuniu a meza administrativa da Irmandade de Santo Antonio do Monte, para tratar de assumptos referentes á mesma Irmandade.
Aberta a sessão, foi proposto que se fizesse um logar apropriado para guardar a carreta a termos que fique desviada das inclemencias do tempo; a que sendo discutido e considerado ficou unanimemente aprovado.
Nesta mesma data foi admittido como sócio o irmão Jose da Rosa Pereira, do Monte de Cima, segundo o disposto no Artigo 5.º dos Estatutos em vigor.
E como não houvesse mais que tratar, foi encerrada a sessão do que se lavrou a presente acta, que, depois de lida, todos assinam comigo Antonio da Rosa Pereira, secretario, que a subscrevi
O Presidente, Manoel Francisco de Medeiros, os Vogaes, Francisco Garcia da Rosa, Antonio Francisco da Silveira, Jose da Rosa da Silva, Manoel Rodrigues Dias, Thomé Gonçalves Matos Junior e Antonio da Rosa Pereira.”

Durante longos anos ali permaneceram abandonados e com o passar do tempo foram-se deteriorando. Há cerca de cinco anos o esquife e o que restava da carreta foram retirados desse espaço.

A carreta foi entregue aos cuidados de Manuel Marcelino Leal que habilmente e muito competentemente a restaurou, estando, no entanto, esquecida na sua oficina. O esquife esse parece que caiu mesmo no esquecimento de todos.

Na minha modesta opinião e para memória futura, penso ser pertinente preservar este património que pertence à Irmandade de Santo António do Monte e que tanto serviu a Comunidade.

Este património é centenário e faz parte da história do lugar Monte. O Monte tem uma rica história e muito se devia orgulhar dela, bem como preservá-la, pois, como alguém disse - “um povo sem história é um povo sem identidade nem memória, e um povo sem memória é um povo sem história…”.

Já agora aproveito e questiono. Será que assim que fosse oportuno, não seria possível construir no Cemitério Municipal do Monte ou noutro local um abrigo para guardar e preservar este património? 

Questiono ainda, será que esta bonita e funcional carreta não poderia voltar a ser usada nos cortejos fúnebres, no percurso que vai desde a igreja ao actual cemitério?

Parabéns Monte pelo teu património e tua história!…
Mário JC Laranjo
Março/2019

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

02-02-2019 - Celebrar Nossa Senhora das Candeias...

a pois é!...
O Monte também celebra Nossa Senhora das Candeias, padroeira da Candelária do Pico.
Segundo as noticias publicadas nos jornais faialenses, a imagem actual de NS das Candeias antes de chegar à sua igreja, foi benzida na actual igreja de Santo António do Curato do Monte a 27 de Dezembro de 1908, tendo depois seguido processionalmente para a Candelária.


Jornal "O TELEGRAPHO", n.º 4463, de 15 de Dezembro de 1908

Jornal "O FAYAL", n.º 130, de 16 de Dezembro de 1908

Jornal "O TELEGRAPHO", n.º 4472, de 28 de Dezembro de 1908